terça-feira, 23 de abril de 2024

PARTE I: DETALHES SOBRE A LÍNGUA MASAKARÁ


 O Natú e o Masakará são ambos descendentes do Proto-Macro-Jê (PMJ), porém o PMJ é mais como um tataravô dos dois, primeiro de tudo as duas línguas não participam dos mesmos ramos, o Natú é descendente das línguas Jê Próprias ou Proto-Jê, enquanto o Masakará deriva do ramo Transanfranciscano, então existem muitas diferenças fonológicas e gramaticais entre as duas línguas. Um exemplo disso é a conjugação de verbos, ambos herdaram um aspecto em comum do PMJ, que é a falta dos verbos ser/ter/estar, sendo expressado pela justaposição dos elementos da frase ou outros aspectos gramaticais, portanto 'casa bonita' pode também ser o mesmo que 'a casa é bonita' nas línguas Macro-Jê.


 As duas línguas expressam-se de forma diferente para dizer 'eu sou indígena', veja os exemplos que comparam Natú, as línguas Kariri e o Masakará:


1) Português: 'eu sou indígena' 


Natú: wa su têrêze

Kipeá: ñihò hietçã

Dzubukuá: dseho buhe yadse

Sapuyá: glö giattzá

Kamurú: klö giattzà

Masakará: *in gkang a gku syuo¹


¹: Reconstruído baseado nas séries reconstruídas de NIKULIN, 2020, p. 192 e na comparação com as outras línguas Kamakã, MARTINS, 2007; LOUKOTKA, 1932; MARTIUS, 1867)


 O Masakará, Kariri e Natú compartilham da mesma característica morfológica de serem majoritariamente monossilábicos, mas por conta da ausência de distinção fonológica (variedade grande de consoantes e/ou vogais ou tons), as línguas desses três grupos optam normalmente por compostos de sinônimos ou quase sinônimos (su-tu ‘fruta-polpa’ > ‘fruta, fruto’) ou compostos de elementos que se complementam, isto é, que sozinhos significam uma coisa, mas juntos formam uma nova palavra (bei-pri ‘virar-saltar’ > ‘de repente, assustar-se’).


 Os pronomes do Masakará são desconhecidos, mas através das línguas aparentadas deste, assim como o paradigma de Nikulin, é possível desvendar claramente o sistema Kamakã:


1) O genitivo (possessivo) era marcado pela adposição -ñung, a única forma preservada dela foi ing-ñung 'meu, minha', isso se difere das outras línguas Kamakã, que herdaram pronomes distintos do possessivo, como:


Paradigma possessivo Kamakã:


o-, aen-, aen-  = meu, minha (extraídos da série agentiva)

guangäni, guang, guae = teu, tua (origem desconhecida)


Paradigma possessivo Kotoxó:


my = meu, minha


Paradigma possessivo Masakará:


ing-ñung = meu, minha


 Julgando pela semelhança e posição em cada palavra, ing- é um cognato direto do Kamakã aen-, sendo ambos descedentes do pronome *a- 'eu' da série agentiva do Proto-Transanfranciscano (PTSF), cujo tem a mesma função que WA do Natú, HI- do Kipeá e Dzubukuá e GI- do Sapuyá e do Kamurú. 


 Note que o Kamakã de Martius também denota o pronome de primeira pessoa do singular com mi-cam (mi-kam), o mesmo que usei em mi gkang, essa estrutura deve ser familiar para os falantes de Kariri, visto que utiliza a mesma estrutura de pronome + substantivo 'pessoa' (Kipeá: hi-etçã 'eu-pessoa', e-w-atçã 'tu-REL-pessoa'), isso é visto no substantivo Masakará an-ga-gkang 'coisa-pele-pessoa' = 'pessoa, gente'., portanto *mi-gkang pode ser reconstruído.


 Os pronomes se dividem de forma mais ou menos similar ao Natú, havendo as séries absolutiva (equivalente à série acusativa do Natú), agentiva (equivalente à série agentiva do Natú), possessiva e também a série ergativa (cujo é dependente da série agentiva), portanto todo o sistema pronominal seria reconstruível da seguinte forma:



1) Série Absolutiva


1ª PESSOA DO SINGULAR

i, in, ing


2ª PESSOA DO SINGULAR²

o


3ª PESSOA DO SINGULAR³

kü, ku, ki, yü, yu, yi, tsyü, tsyu, tsyi, k-, y-


1ª PESSOA DO PLURAL⁴

ki ñe, ki ña, kiñ



²: De acordo com Martius (1867, p. 154), o pronome da segunda pessoa do singular absolutivo do Kamakã é o, cf.: o-ne! "sente!"


³: O Masakará possui verbos frasais, com verbos auxiliares que regem os verbos dinâmicos (de movimento) e os verbos estáticos (de estado), os de movimento parecem ser regidos por a mu ‘vai tu, ir’, cognato do Krenák am-mung ‘vai tu, ir’ (FRASSETTO, 2018, p. 140), conjugado na terceira pessoa com os pronomes citados acima (kü a mu, yu a mu, tschu a mu, k-a mu, ki a mu)


⁴: De acordo com Loukotka (1932, p. 500 e p. 511), o pronome de primeira pessoa do plural das línguas Kamakã é kigne (ki ñe) ou kigna (ki ña), cujo corresponde ao kinhing do Krenák (FRASSETTO, 2018, p. 69)


2) Série Agentiva


1ª PESSOA DO SINGULAR 'eu'

nghi, nghin, nghi gkang, nghin gkang


2ª PESSOA DO SINGULAR⁵ 'tu, você'

tho, tho gkang


3ª PESSOA DO SINGULAR⁶ 'ele(a)'

nhon, nhon gkang


1ª PESSOA DO PLURAL 'nós'

ki ñe, ki ña, kiñ, kiñe tsö, kiñ tsö


2ª PESSOA DO PLURAL 'vós'⁷

tho tsö, tho gkang tsö


3ª PESSOA DO PLURAL 'eles(as)'⁷

nhon tsö, nhon gkang tsö



⁵: Confira Martins (2007, p. 31) e Nikulin (2020, p. 535), a palavra ‘dente’ é reconstruída como *co no Proto-Kamakã, que resulta em tʰ no Masakará, o pronome agentivo da segunda pessoa do singular é *ca, portanto o mesmo processo foi imitado aqui.


⁶: De acordo com Loukotka (1932, p. 500), o pronome do Kamakã da terceira pessoa é dhon, esse pronome é cognato direto de n'ang /n̥aŋ/ do Krenák, cujo também é um fonema nasal surdo, demonstrando que o som /n̥/ resulta em /dʰ/ desnasalizado, optei por escrever com o dígrafo nh para representar sua etimologia e por outro motivo que será explicado abaixo, portanto nh Masakará = dh Kamakã.


⁷: De acordo com Martins (2007, p. 85), o plural é marcado pelo adjetivo ye 'muitos', cujo o sinônimo no Masakará é tsö (paw tsö 'muitos', MARTIUS, 1867, p. 144), Martins opta por representar como sufixo, optei por manter a ortografia separada por morfemas, portanto tho tsö 'vós' ao invés de tho-tsö 'vós'.



3) Série Possessiva


1ª PESSOA DO SINGULAR 'eu'

mi, mü, in ñung


2ª PESSOA DO SINGULAR 'tu, você'

küak, o ñung


3ª PESSOA DO SINGULAR 'ele(a)'

possuidor + ñung + possuido (Kaura ñung gratzo garä 'as vacas de Kaura')


1ª PESSOA DO PLURAL 'nós'

mü tsö, kiñ ñung


2ª PESSOA DO PLURAL 'vós'

küak tsö, o tsö ñung


3ª PESSOA DO PLURAL 'eles(as)'

possuidor + tsö + ñung + possuido (ex.: tsö ho tsö ñung pa 'casa dos indígenas Kariri')



4) Série Ergativa


1ª PESSOA DO SINGULAR 'eu'

te nghi, te nghin


2ª PESSOA DO SINGULAR⁶ 'tu, você'

te tho


3ª PESSOA DO SINGULAR⁷ 'ele(a)'

te nhon


1ª PESSOA DO PLURAL 'nós'

te kiñe, te kiñ


2ª PESSOA DO PLURAL 'vós'

te tho tsö


3ª PESSOA DO PLURAL 'eles(as)'

te nhon tsö




Autor da matéria: Suã Ari Llusan 



PARTE II: ASPECTOS COMPARTILHADOS COM O KARIRI


 A proximidade do Masakará com o Kariri em termos geográficos e culturais trouxe algumas influências no seu léxico, principalmente na parte de substantivos como ga ré 'branco', que é comparável com karaí 'branco', kra tsó 'anta' com kradzò 'vaca, boi, gado' e a ming 'fome' com amì 'fome, mantimento', expliquei isso na última vez que falei aqui sobre essa língua e decidi trazer alguns detalhes em uma comparação tripartida entre o Kariri, o Natú e o Masakará. A palavra para casa do Masakará, que é pa, é totalmente diferente do que se vê nas outras línguas Kamakã (töah, deha, diha, tuah, toah, etc...), mas se assemelha bastante ao verbo bastante conhecido do Kariri: bà 'viver, morar', que deriva o substantivo ba-tè 'moradia, casa', e o Natú pa/ba 'viver, morar'.


 Outras palavras do Masakará demonstram sua divergência, como o fato deles usarem küm büo 'mão' ao invés de *ñim-kruk, a primeira sílaba talvez seja descendente do PTSF *kym 'tronco, chifre', enquanto büo carrega o significado de mão, se assemelhando fortemente ao Kipeà bò 'braço, mão' (cf.: raenbò 'acenar com a mão') e o Dzubukuá bo 'braço’, formando küm büo 'chifre (apêndice) que é mão'.


 Como o vocabulário Masakará surge somente no documento de Martius, não temos uma lista extensa da possível influência que o Kipeá teria passado para essa língua, mas em qualquer instância de revitalização deste idioma, a utilização de empréstimos Kariri daria sem dúvidas continuidade a este processo de amizade ancestral.


 Mesmo que superficialmente, é interessante notar que o Kamakã tem uma partícula que se assemelha integralmente ao kri/kli ‘já, sufixo do pretérito’ das línguas Kariri, nesta sendo kurê ou krê ‘já’, existe a possibilidade deste também ser um empréstimo, no entanto, não sei informar em qual direção.


 Ainda no tópico de escassez de dados, não é possível inferir muito sobre a gramática do Masakará, mas é possível que a influência do Kariri fosse bastante forte, pois a única adposição do Masakará funciona como preposição, enquanto nas outras línguas Kamakã ela funciona como posposição:


pa ko ‘dentro’, literalmente ‘em buraco’ vs dun-a (*dũ-pa) ‘longe’, literalmente ‘longe-para’


 Isso indica para nós que o Masakará talvez estivesse passando por processos semelhantes ao Kariri, preposições, marcação do sintagma nominal DNA (determinante-nome-adjetivo) e talvez verbo-inicial (VSO e VOS)


O Masakará se assemelha ao Dzubukuá em sua falta da sibilante /s/, o Dzubukuá transformando os fonemas que normalmente derivam /s/ nas outras línguas Kariri em /ð/ ou /h/, enquanto o Masakará transforma ele em /c/, /tʃ/, /ts/, /t/, /tsʰ/ ou /tʰ/, assim as duas línguas devem utilizar outros fonemas para expressar a sibilante:


Dzubukuá: dapuca, do Tupi Antigo gûyrá-sapucaî-a


Masakará: thüo ‘dente’, cognato do Kamakã ankö’-tschoh e do Menien yo, do Proto-Kamakã *jo

 



Autor da matéria: Suã Ari Llusan 



PARTE III: TIPOLOGIA DO MASAKARÁ


 Assim como descrevi acima, o Masakará tende a ser monossilábico, como as línguas Kariri e a maioria das línguas Macro-Jê, com apenas alguns elementos como empréstimos não sendo analisáveis nativamente. Em comparação ao Natú, o Masakará é bem similar, com algumas instâncias de aglutinação, mas em geral, uma tendência forte a ser isolante, essa tipologia é comum aos membros do ramo Transanfranciscano, nos exemplos a seguir usarei uma proposta de reconstrução da gramática do Masakará, com o uso de uma gramática analítica baseada nas palavras registradas por Martins (2007) e Loukotka (1932), com adaptação fonológica e simulação dos aspectos vistos nas poucas frases dessas línguas.



Exemplo 1



Natú: Wa su Karlu dì nô, waroni to sa mó krìkia Salvador, tó we sa mó iro 1994 (iwó simñaté simñakó marankañìkê), wa to sa mó iro 2002 (wakañì iwó wakañì).


Masakará: Nghin Kar ru ñung thyag kwa, kiñ tang krö pa pa tshyang Tsyar wa dor, nhon tang krö pa pi na tsö 1994 (pätt rog küm nó tsö küm nó tha ga), nghin tang krö pa pi na tsö 2002 (ngri rog ngri).


Português: Eu sou irmão do Carlos, nascemos na cidade de Salvador, ele nasceu no ano de 1994 e eu nasci no ano de 2002.



Exemplo 2



Natú: Zuaun dì to babi senan têrê zu krananan, tó hô we têrê wâ su bana timârishin, wa mra athó dó kê atónan mó rese, saran kó awrihô kidé ? 


Masakará: Mang an krö te Tsyüawng⁸ pa ga bih tsö mhan⁹ tsyin, mang krö nha myaw te nhon¹⁰ kott an nha myaw tsya ta, an kü te nghi pa in ha ma tsyüng büo’ pa an kah, tho hauwng ñi hu tsyü min pa in ?


Português: João mandou as crianças irem buscar água, ele mesmo foi caçar com os outros caçadores, e eu vou me preparar para colher ervas, tu gostaria de me ajudar ?



Exemplo 3



Natú: Ana we ñàhì bu kankisi dó ñar zu, têr su tai, wa mra se ña waràró.


Masakará: Kyañ min kre te syoö ag tsu kri ñung küm rog pa tsyin an, pa mu ta, an kü nghin kah kha ma ta ai ya.


Português: A mamãe comprou cana de açúcar pra fazer caldo, para acompanhar, eu vou fazer beijum recheado com carne.



⁸: O Masakará não possui grande abundância de fonemas sonoros, a maioria das correspondências entre essa língua e as outras línguas Kamakã indicam que a distinção de sonoro vs surdo foi ou estava aos poucos sendo substituída por uma distinção entre aspirado vs não-aspirado, não fui capaz de encontrar o fonema /d/ em nenhuma instância dessa língua, nem outro fonema parecido, portanto usei ty /c/ para aproximar o som do nome João.



⁹:*mhan foi reconstruído com base na correspondência do Kamakã 2: mané ‘buscar’ e do Mongoyó 1: i-hana, que também surge como mã e mãn, acredito que o fonema aqui seja a bilabial nasal surda /m̥/


¹⁰: O fonema inicial de nhon ‘ele, ela’ no Masakará é confirmado pela correspondência do verbo ‘caçar’ entre o Masakará e o Kamakã, no Kamakã esse fonema virou /t/ (toemaung) e no Masakará foi preservado como /n̥/ (hnamaiaü, atualizado para nha myaw).




Autor da matéria: Suã Ari Llusan 


domingo, 21 de abril de 2024

A TIPOLOGIA DO KARIRI


 Existem duas classificações divergentes sobre a tipologia das línguas Kipeá e Dzubukuá, o World Atlas of Language Structures (WALS) classifica o Kipeá como primariamente isolante, enquanto queiroz classifica, logo no começo de seu documento, o Dzubukuá como uma língua polissintética (QUEIROZ, 2012, p. 380).


 A classificação do Kipeá é extremamente errônea, visto que a referência do WALS vem de Larsen e sua discussão sobre o caso ergativo do Kipeá, em nenhum momento este autor menciona a tipologia da língua Kipeá, portanto é aberrante a afirmação sem qualquer evidência clara para sustentá-la, portanto discordo dessa classificação.


 A classificação de Queiroz é a mais próxima da realidade, adiciono aqui que o Kariri é uma família de línguas comumente usa de morfemas monossilábicos e constrói palavras dissilábicas (compostos de morfemas monossilábicos sinônimos, como pa-dzu 'pai-pai'), havendo, claro, excessões, levando em consideração empréstimos e retenções de palavras herdadas de seu ancestral (Macro-Caribe). O Kariri em sua inflexão mais extrema é polissintético, podendo criar palavras grandes com a adição de prefixos e sufixos:


Dzubukuá: pelewimanhemnnukiea (pele-wi-manhem-nnu-kie-a 'fazer.sair-ir-mais-poder-não-PL') "nunca mais morreremos"


 Mas essas são construções possíveis, elas não representam a maioria das construções dentro das línguas Kariri:




 Então a tipologia Kariri, na minha visão, talvez precise de uma reavaliação com denotações mais atualizadas, visto que línguas naturais funcionam em um espectro, nunca se encaixando fundamentalmente em uma só categoria, novamente digo que a classificação de Queiroz está extremamente proxima da realidade, adiciono portanto o seguinte:



LÍNGUAS KARIRI


Morfemas majoritariamente monossilábicos (morfemas que contém uma sílaba), excetuando aqueles herdados do Proto-Macro-Caribe e emprestado de outros idiomas; comumente constrói palavras dissilábicas, através de composição de sinônimos (pa-dzu 'pai-pai' > padzu 'pai') ou compostos que precisam um do outro para completar o sentido pretendido da palavra (tu-yó 'brincar-falar' > tuyó 'zombar') ; língua de caráter majoritariamente sintético, com a possibilidade de construções polissintéticas e analíticas; ergatividade cindida (possui aspectos de alinhamento ergativo-absolutivo e nominativo-acusativo), Verbo inicial V-S-O (verbo-sujeito-objeto) e VOS (verbo-objeto-sujeito), com o Dzubukuá se excetuando por conta de seu processo nativo de topicalização, possibilitando variação livre dos constituíntes; Os modificadores sucedem os modificados (anra buhe 'casa vermelha') ao invés de anteceder (buhe anra 'vermelha casa'); existem muitas preposições, algumas posposições são herdadas do Terejê (Dz.: do koho 'então' por exemplo).




Autor da matéria: Suã Ari Llusan 



IMPORTÂNCIA DOS POVOS INDÍGENAS


        Qual a importância do Dia dos Povos Indígenas?

Os povos indígenas do Brasil com seus direitos originários na Constituição de 1988, mostra sua importância para nosso país e para o mundo, por serem os povos que aqui viviam antes do colonizador. Com sua riqueza cultural, étnicas formadora do povo brasileiro junto com a euro-africana correspondente nossas características atual. O legado na culinária, cultura, costumes, palavras na língua portuguesa da fauna, flora, nomes de rios, cidades, fazendo o povo brasileiro muito especial entre as nações da América do Sul e no mundo com toda essa mistura. O Dia dos Povos Indígenas mostra a seriedade como o Brasil e o mundo vem buscando proteger os nativos e com seus direitos culturais, sociais, linguísticos, bem como defender nossas florestas e seu meio ambiente importantes para nosso planeta Terra.

         Qual a importância dos povos indígenas para Brasil ou para America (Abya Yala) Humanidade ou Planeta ? 


Os povos indígenas para o Brasil representar uma importância fundamental para nosso país por sua história, formação étnica de nossa nação. Considerando nossas florestas como a maiores do mundo, os indígenas são defensores do meio ambiente essencial para o clima do planeta Terra. Para a América ( Abya Yala ) o Brasil por ser o maior país da América do Sul onde tem a floresta Amazônia junto com outros países, temos ainda o Rio Amazonas que nasce na Cordilheira dos Andes onde se encontra muitos povos do Abya Yala, todo esse contexto exclarece a importância dos povos indígenas em todo esse processo do bem estar de todos.


Autor da Matéria: Nhenety KX 

terça-feira, 16 de abril de 2024

ETIMOLOGIA DE GAKHANG 'LUA' DO MASAKARÁ


Martius anotou a palavra Masakará em seu documento para 'lua', que é *gachang* em sua ortografia, essa palavra foi comparada com o Sapuyá algumas décadas depois de sua anotação por Loukotka, em seu documento de 1932: La família Kamakan del Brasil:


Masakará: gakhang

Sapuyá: gaya-kú


 Essa comparação me interessou, pois o Kariri como um todo parece ter herdado a palavra *kaya que virou kayá no Dzubukuá e Kipeá e gayá no Sapuyá e Kamuru, como eu descrevi nos ultimos meses, o som de *y não pode ter sido herdado do Proto-Kariri, nem muito menos do Proto-Macro-Caribe, pois todos os som de *y nativos se tornaram *dz ou *dj, portanto a palavra *kaya talvez se trate de um empréstimo do Kamakã.


 Digo isso pois Martins publicou em 2007 sua revisão do documento de Loukotka, providenciando uma reconstrução da palavra baseada nas correspondências das outras línguas Kamakã:


Proto-Kamakã: *hetʃe


K1: häthie

Mo1: hädiä

Ko: hidié

K3: dihé

Me: jé

K2: (egisé)

K4: tuê

Ma: (gaxang)


 De todas as línguas que vi nestes dois documentos, o Menien e o Masakará parecem ser os mais conservadores das consoantes antigas do Proto-Kamakã, infelizmente as reconstruções de Martins são centradas unicamente nas línguas Kamakã propriamente ditas (K1, K2, K3, K4) e não nos membros como um todo, o que fez considerar o gaxang do Masakará como divergente e não correspondente ao outros idiomas, portanto eu discordo da reconstrução de Martins e providencio meus argumentos:


1) Praticamente toda vez que o som *j (equivale a y) herdado do Proto-Transanfranciscano aparece nas línguas Kamakã, o Menien tende a herdá-lo sem qualquer modificação:


PTSF: *juñ 'dente' > Menien *jo (yo)


2) O Masakará parece estar removido dos processos de um possível processo de alçamento vocálico que ocorreu na maioria das línguas, baseando em sua conservação do fonema *p em relação às outras línguas Kamakã que transformaram tal som em *hw, advirto atenção para a possível conservação de mais fonemas nessa língua.


3) Continuando sobre o Masakará, se este preserva consoantes em relação aos outros, é possível que a reconstrução de  *he-tʃe (sugiro *ɣy-ɟɛ) corresponda à transformação que ocorreu no que chamarei aqui de Kamakã Comum, enquanto uma reconstrução como *ky-ja corresponda melhor ao Proto-Kamakã, que inclui o Masakará, as línguas do Kamakã Comum (Kamakã, Kotoxó, Mongoyó) e o Menien.


 Eu teorizo que, baseado nos contos dos Kamakã, assim como um conto do povo Maxakalí, os povos transanfraciscanos compartilhassem de uma teoria sobre o porquê da lua ter manchas, isso foi por quê ela foi queimada. E podemos encontrar ainda hoje as raízes que formaram essa palavra nas línguas Kamakã:


Kamakã: ianí 'queimar' (Martins, 2007, p. 88)


Kamakã Comum: *ky 'testa, rosto'


K1: akü

Mo1: aké

Ma: kü


Assim, o composto seria *ky-ja 'rosto/testa queimado(a)' e concluo que foi um empréstimo do Kamakã para as línguas Kariri.




Autor da matéria: Suã Ari Llusan 



DESCOBERTA SOBRE A PALAVRA KRABU


 Como falei há 2 anos atrás, KRA-BU é um composto de duas palavras, a primeira tendo relação com o *krat do Proto-Cerrado, que entrou no Kariri através das línguas Terejê, juntando essa raiz com BU 'pele, casca'. A descoberta não é mais sobre sua etimologia, e sim sobre sua conexão com um termo Kamakã:


KMK: kraká 'peito de homem'

kraká-iê 'peito de mulher'


KRA-KA está composto com duas palavras, uma que conhecemos, que é KRA 'peito' e KA, a palavra Kamakã para 'pele' (cf.: LOUKOTKA, 1932, p. 505) , uma construção identica e parcialmente nativizada do termo visto no Kariri. Argumento que KRA aqui não seja nativo do Kamakã, e sim seja um empréstimo das línguas Kariri através da interação constante das duas nações, visto que a construção do termo é identica nos dois. Além desse argumento, Nikulin em seu artigo na reconstrói *krat no ramo Transfranciscano, pois nenhuma família (Maxakalí, Krenák e Kamakã) herdou esse termo, com o Kamakã posteriormente interagindo com os Kariri e importando a palavra.




Autor da matéria: Suã Ari Llusan